em movimento
hoje te escrevo um bilhete, mais que uma carta. um bilhete em despedida. não de ti, mas de Lisboa, esse canto de continente e de Tejo e de pastéis de nata.
com a mochila sendo fechada e uma passagem pra Coimbra na mão, tiro minutos que me restam aqui na hospedagem pra te deixar com o gostinho de maravilha e saudade que me acompanha desde já.
o gostinho de que Lisboa não está aqui como qualquer outra cidade estaria. ela está como um poema
um fado
um mural de azulejos coloridos
uma escultura musicada
um lugar pra sempre voltar
no último dia de rolê em Lisboa, fomos a uma casinha de fado que encontramos por acaso no Chiado. se chama Duque da Rua. digo casinha pois poucas vezes entrei num bar tão pequeno.
pequeno e aconchegante, como o som do violão fadista quando começa a anunciar a cantoria.
não havia um só cantor, mais muitos e muitas. artistas que se revezavam no tempo e no pouco espaço entre as mesas pra cantar.
cantaram a vida que dói e desafoga
que nasce e morre e ama a esperança
que ama a rua de sua casa como um palácio
e até deixa entrar a tristeza pela porta a não ser que ela prometa sair pela janela
um fado é a canção de uma vida toda
fiquei tocada, extremamente. e muito muito feliz de estar aqui.
procurei na internet uma das músicas mais bonitas da noite, achei a versão ao vivo desta cantora:
“Esta voz tão dolorida
É culpa de todos vós
Poetas da minha vidaÉ loucura
Ouço dizer
Mas bendita esta loucura
De cantar e de sofrer”Carlos do Carmo
bom, o combinado é que esse seria só um bilhete. então pronto, hora de terminar a mochila e partir.
um beijo!
p.s.
📖 Mikaia, Taiane Santi Martins - o maravilhoso livro vencedor do prêmio Sesc. escrito [e autografado!] pela querida Taiane, o livro me acompanhava desde que comecei a viajar, mas tinha que ser aqui em Portugal o tempo de ler. um livro sobre se encontrar. lindo, Tai 💜
📖 A Espera, mais um conto maestral de Lygia Fagundes Telles
📖 Espanca, Luz Ribeiro - livro brabíssimo dessa poeta que admiro demais.
verso
na foto dessa news, em que apareço em frente a uma parede colorida cheia de poemas, parede chamada de Paginário, encontrei esse poema de Sérgio Vaz:
“Teimosia
.
Não adianta
quebrarem minhas pernas,
furar meus olhos
ou falar pelas costas.
O que sustenta meu corpo
são as minhas ideias.
Braços descruzados,
tenho um cérebro com asas
e sou todo coração.
Se me proibirem de andar sobre a água,
nado sobre a terra”
Sérgio Vaz